Os preservativos são conhecidos como os únicos métodos capazes de prevenir gravidezes e infeções sexualmente transmissíveis ao mesmo tempo. Apesar desta premissa comum, minha exploração de terreno tem sugerido que a estratégia pública desenvolvida em torno deste recurso é diferente no Brasil e em Portugal. Parto de visitas aos locais de distribuição gratuita nas cidades de Fortaleza e Lisboa para tentar perceber a posição ocupada pelo preservativo em narrativas sociais que se materializam na organização de diferentes serviços, como planeamento familiar e prevenção/controle de HIV e outras ISTs. Recorro também a documentos, tais como legislações e publicidades, e a investigações que já analisaram os dois países nestes âmbitos. Baseada nos debates teóricos sobre gênero e sexualidade, tento elaborar observações iniciais sobre as dinâmicas de significação e poder que se desenrolam nas diversas camadas socioculturais que circulam o preservativo, como a institucionalidade dos serviços geridos pelo Estado e por outras entidades de origens distintas; processos sociais de hegemonia, disciplina e normalização; experiências pessoais; e imaginações coletivas. Esta comunicação traz dados iniciais de terreno e integra uma investigação em curso a respeito da multidimensionalidade dos exercícios de poder envolvidos nas experiências contraceptivas para a construção de minha tese doutoral.

Ao CRIA, pelo acolhimento na investigação doutoral; FCT Portugal, pelo financiamento.

• Antropologia - Ciências Sociais